sábado, maio 24, 2014

CARTA ESCRITA NO DIA DO NAUFRÁGIO

CARTA ESCRITA NO DIA DO NAUFRÁGIO 
A carta é única por ter sido escrita no dia em que o navio colidiu com o icebergue.
Esta peça única, com o seu envelope e o símbolo da White Star Line em relevo, foi escrita pela passageira de segunda-classe Esther Hart, a mãe da famosa sobrevivente Eva Hart, e é destaque na biografia de Eva Hart "Shadow of the Titanic". Eva viajava com os seus pais, Esther e Benjamin, um mestre de obras, com destino ao Canadá, onde iriam começar uma nova vida. Eva Hart descreve os acontecimentos de 14 Abril com grande detalhe na sua biografia... "Após o almoço, muito gratificante, nós os três fomos para a biblioteca para descansar um pouco antes da mãe ir para a cama*. Ela aproveitou esta oportunidade para escrever uma carta para a sua mãe em Chadwell Heath. Pretendia que a carta ficasse no navio de modo a ser entregue na sua viagem de regresso. Como tal, ela nunca foi enviada e sobreviveu ao desastre junto connosco. Ao escrever numa folha que tem em relevo a bandeira da White Star Line e com o assunto "On Board Titanic", ela deixa bem claro que a viagem não estava a ser do agrado de todos. Ela dá uma imagem muito clara da vida no navio através de seu olhar preocupado. Nessa tarde de domingo, ela escreveu: 
"A todos os meus queridos, Como podem ver, é domingo à tarde e estamos a descansar na biblioteca depois do almoço. Eu estive muito mal ontem todo o dia, não conseguia comer ou beber e estive doente o tempo todo, mas hoje melhorei. Esta manhã, Eva e eu fomos à missa e ela estava tão contente que cantou “Oh God our help in ages past”, que é o seu hino, ela cantou tão bem. Cantou em voz alta muito bem. Ela ganhou uma bonita bola, uma caixa de chocolates e uma foto do navio que lhe compraram hoje. Todos a conhecem devido ao seu ursinho Teddy. Amanhã à noite vai haver um concerto em ajuda ao Lar dos Marinheiros e ela vai cantar comigo. Bem, os marinheiros dizem que tiveram uma viagem maravilhosa até agora. Não houve nenhuma tempestade, mas Deus sabe como deve ser quando as há. Esta poderosa extensão de água, sem terra à vista e o navio balançando de um lado para outro tem sido maravilhoso. Contudo eles dizem que este navio não balança devido ao seu tamanho. De qualquer modo, ele balança o suficiente para mim, nunca me vou esquecer. Está um clima muito bom, mas muito ventoso e frio. Eles dizem que podemos chegar em New York na noite de terça-feira, mas temos garantia de pernoitar até à manhã de quarta-feira, devo escrever assim que chegar lá. Esta carta não vai deixar o navio, mas vai permanecer nele e voltar para a Inglaterra, que deve chegar no dia 26. Onde você vê a letra toda tremida é o lugar de um parafuso que faz estremecer o meu braço. Escrevo-lhe numa folha do menu para mostrar-lhe como vivemos. Vou estar ansiosa por uma resposta de algum de vocês para me animar um pouco. Sempre que fecho os meus olhos, vejo tudo como deixei. Espero que estejam todos bem. Que esta seja uma carta lida por todos, eu não posso escrever especificamente para cada um até que tenha o pé em terra novamente. Conhecemos algumas pessoas agradáveis ​​a bordo, Lucy, e por isso tem sido bom até agora. Mas oh estes longos, longos dias e noites. É a pausa mais longa que já passei na minha vida. Vou terminar agora com todo o amor do mundo para todos vocês. Da sua querida Ess".
A minha mãe deixou espaço suficiente para eu acrescentar a minha própria mensagem, escrita nas minhas letras grandes e inexperientes dizendo: "muito amor e beijos para todos de Eva". 
Mal poderíamos sequer pensar naquele momento que acabaríamos por ser nós a levar a carta de volta para a Inglaterra. É bastante claro na carta que a viagem foi uma experiência terrível para ela e ela estava preocupada o tempo todo. Não havia dúvida de que ela precisava do seu descanso e de dormir depois de escrevê-la.
Já era noite de quinta-feira, 18 de Abril de 1912 quando o muito carregado "Carpathia " atracou no cais de New York. Milhares de espectadores esperaram várias horas para ver a chegada do pequeno navio que tinha sido responsável pelo resgate. Foram todos muito gentis connosco quando desembarcamos e apesar da perda de todo o nosso dinheiro, passaportes e bagagens, não houve atrasos indevidos em passar o controle de imigração. A primeira coisa que a minha mãe queria era enviar um telegrama aos seus pais na Inglaterra confirmando que tínhamos sido resgatadas e que tínhamos chegado em segurança aos EUA. A carta que ela tinha escrito no domingo à tarde no "Titanic" nunca foi enviada. 
Ela encontrou-a no bolso do casaco forrado a pele de carneiro do meu pai depois que fomos resgatadas e para ela foi como uma recordação constante da trágica viagem e da perda do seu marido." O leiloeiro Andrew Aldridge da Henry Aldridge & Son disse que "a importância deste item lendário não é exagerada, sendo o único exemplar conhecido deste tipo a sobreviver e a ter sido escrito naquele dia fatídico, sobrevivendo ao naufrágio, e ter pertencido a uma sobrevivente bem conhecida. A carta e o envelope estão numa condição notável, com uma proveniência impecável, e eles representam uma oportunidade única de possuir o melhor exemplar do seu género que existe actualmente. É simplesmente a jóia da coroa do Titanic." A carta fez parte do leilão de objectos ligados ao Titanic ocorrido no dia 26 de Abril.
*A mãe de Eva Hart, teve um mau pressentimento quanto ao navio pelo que durante a viagem ficava acordada durante a noite e dormia de tarde.

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